fevereiro 2009


Para quem gosta de uma boa dose de slaps, teclados rhodes e um wha-wha no som da guitarra, não pode deixar de conferir a trilha sonora do filme Superbad. Gostei muito do filme, mas entendo bem aqueles que o acharam infantil e bobo.

Mesmo assim, a trilha é um prato cheio pra quem gosta do ritimo que brilhou no balanço de James Brown: o Funk/Soul.

Além de grandes músicas de artistas do Funk como Jean Knight e a banda The Bar-Kays, o disco é carregado de composições próprias para o filme; desde pequenas trilhas para compor as cenas, até canções como “Funk McLovin” foram muito bem produzidas.

A dupla escalada para compor a maior parte das trilhas foi Lyle Workman e Bootsy Collins, e o resultado é um albúm ritimado e com ótimos arranjos de metais, teclados e o swing da guitarra de Lyle.

Vale a pena ouvir o disco com o volume nas alturas e curtir esse funk dançante, que não é nenhum proibidão.

O ano de 1965 foi um ano memorável para música. Talvez quem vivesse naquela época não tivesse a noção do que surgiu durante as quatro estações daquele ano. Álbuns que, até hoje, são lembrados: The Rolling Stones (da banda com o mesmo nome), Live a The Star Club, Hamburg (Jerry Lee Lewis), The Beach Boys Today! (Beach Boys), A Love Supreme (John Coltrane), Rubber Soul (The Beatles), Mr. Tambourine Man (The Byrds), My Generation (The Who), entre outros.

Todos os grandes discos lançado neste ano não ofuscaram o grande pulo do garoto Robert Zimmerman, o Bob Dylan. Dylan lançou dois discos neste ano: Bringing It All back Home e, o controverso, Highway 61 Revisited.

Há um mês de lançar o segundo álbum de 1965, Dylan ligou sua guitarra no Festival Folk de Newport, em 25 de julho de 1965, e foi vitíma das críticas dos puristas da época, que amaldiçoavam Dylan porenvenenar” o folk com sua guitarra.

Anos depois dylan respondeu da seguinte forma: “Eu não podia continuar sendo aquele cantor folk solitário, dedilhando ´Blowin In The Wind´durante três horas todas as noites“. As críticas foram abafadas pelo entusiasmo que o público recebeu o disco, que ainda trazia músicas voz e violão, como ´Desolation Row´, que atendia as expectativas do bom folk da época; no entanto, o disco trouxe canções poderosas e originais como o clássico ´Like a Rollign Stone´ e ´Tombstone Blues´.

Highway 61 Revisited pode não ser a obra prima de Dylan, mas abriu espaços e quebrou paradigmas, possibilitando, a este caipira de Minissota, fazer um som além que os limites do folk da época lhe possibilitava.

Por falar em obra prima, ´A Love Supreme´ pode ser considerada a tal entre os discos de John Coltraine.


Damien Rice em São Paulo

Damien Rice em São Paulo

“Cuidado com o que você pede, pois pode ser que você consiga”, essa máxima se fez valer no show de Damien Rice na última sexta-feira, dia 30, em São Paulo. Quase 2 mil pessoas encheram o Citibank Hall para assistir o primeiro show do músico irlandês em terras tupiniquins.

Show improvisado, em que o público praticamente montou junto com Rice o set list da apresentação. Entre uma música e outra surgiam gritos da platéia e que eram prontamente atendidos. “Deixa eu escolher a próxima canção e depois você escolhe”, brincou o astro da noite enquanto choviam pedidos de músicas da platéia.

Damien Rice tem, ao mesmo tempo, muito e pouco de um astro. Dotado de um talento “gritante” e original, o cantor se comporta em cima do palco com a naturalidade dos artistas de ruas – daqueles bem talentosos. Característica talvez guardada do tempo que abandonou a chuvosa Dublin para tocar pelas ruas de Toscana, na Itália.

Em sua apresentação em São Paulo, Rice misturou um pouco de músico de rua, com karaokê, teatro, concerto, e outras milongas mais; além de um bafo de várias taças de vinho tinto, bebidas em sua dramatização de Cheers Darlin’, ao lado de dois fãs.

Apenas acompanhado de seu violão, Damien Rice subiu ao palco para fazer entrar em contradição aqueles que acreditavam que uma performance acústica não seria tão impactante quanto os seus álbuns de estúdio. E não foi, foi mais ainda; as interpretações ao vivo de suas próprias músicas, beiravam a uma releitura de si mesmo. E sobre a Lisa Hannigan e a banda com cello, baixo e bateria? Devem ter sido lembrados apenas depois show, no papo entre os amigos sobre a apresentação.

O show começou com a canção The professor & la fille danse, uma música teoricamente desconhecida e que somente foi lançada, em 2004, num disco intitulado B sides, mas que já nas primeiras chacoalhadas da mão de Damien nas cordas do violão foi o bastante para fazer o público gritar e cantar, acompanhando a letra da música inicial. Em seguida, Rice executou a música Delicate, e, na seqüência, para atender um grito que veio da platéia tocou Sand. Esta última uma música que nunca foi lançada em álbuns oficiais ou nos vários discos singles feitos pelo irlandês.

Dessa forma seguiu o show: uma música do palco e algumas que vieram da platéia. Até a hora em que uma parte da platéia subiu ao palco, a convite de Rice, e cantou o refrão de Volcano. Um presente para os fãs fiéis que estavam lá e que, por alguns momentos, tiveram a oportunidade de dividir o palco com seu ídolo. “Eu estava lá, imediatamente ao seu lado, fascinado com minha sorte, sua aparência frágil e a força de sua voz o tornam irreal apesar de estar ali ao meu lado”, conta, não acreditando, o “tiete” Marcelo Moraes.

Com pouco mais de duas horas de show, um pouco de tudo aconteceu: atendeu aos pedidos da platéia, pediu para desligar todas as luzes da casa de show, inclusive as do palco para cantar, em completa escuridão, Cold Water; dispensou o microfone e cantou no captador do violão o final da letra de I Remember; desligou o microfone e o violão para cantar Delicate para a platéia, apenas “na madeira”; tocou a música do poeta canadense Leonard Cohen, Hallelujah, na versão de Jeff Bucley; convidou Max de Castro pra tocar o clássico da Bossa Nova, Desafinado, apenas porquê não ele sabia “those fuck jazz’s chords”, entre outras muitas peripécias de um artista de rua que ousa excursionar pelo palcos do mundo com a sua música.

O show deixou claro que Damien Rice é muito mais do que o clichê de ser um cantor folk. Apesar do gênero estar na moda, e nomes como Jonny Cash, Neil Young e Bob Dylan estarem na boca, até de meninas de 16 anos que acham cool ser folk; Rice vai além desse estereotipo e consegue voltar à essência deste ritmo raiz.

Apenas com um violão e a sua voz canta uma música do povo, diferente daquela cantada há 40 anos, até por que a demanda desta juventude é outra, e parece que esse, nem tão jovem, irlandês procura seguir seu próprio ruma na musicalidade. Assim como Robert Zimmerman, fez em 1965, sem deixar de ser folk.

Ativista de carteirinha

Após sete anos do lançamento do seu primeiro álbum, O, a sua turnê só aconteceu no Brasil por um motivo: para levantar fundos para as vítimas da chuva em Santa Catarina. Damien Rice participa de campanhas de caridade ao redor do mundo com muito engajamento, além de ser vinculado a algumas organizações de caridades não-governamentais.

No ano passado participou de álbum lançado em prol da causa do Tibet, além de ter ajudado famosas campanhas como a Freedom Campaing, pela luta dos direitos humanos.

A pedido de uma amiga, Rice topou vir ao Brasil para fazer um show em SC, doando o seu cachê aos necessitados. Com essa brecha, foi possível encaixar um show em São Paulo e uma participação na gravação do DVD, no Rio de Janeiro. Mostrando que esse talentoso Irlandês está além do “é isso aí”, e que carrega no, seu violão, uma arte cheia de sentindo, mas não o mesmo sentido do show business.