julho 2009


Acredito que os trocadilhos entre Céu e a beleza da cantora se acabaram no primeiro disco. Que pena! Logo eu que queria iniciar o texto de maneira “descolada” e “inteligente”. Enfim, o meu primeiro parágrafo já está se acabando – o famigerado lead – e não fiz nada que o deixasse hype.

Mas vamos ao que interessa: o novo álbum da cantora Céu, Vagarosa. Com uma sobrecarga de expectativas sobre este segundo trabalho, já que a moça foi eleita pela crítica especializada – se é que existe – como a promessa da MPB, Céu traz em seu novo disco músicas com a mesma brasilidade do primeiro, adicionando algumas novas influências. Faixa a faixa, Vagarosa tem ritmos quebrados e, muitas vezes, no contratempo, sonoridades de teclado rCéuhoades e uma cadência reggae.

O reggae fez muita fumaça nos anos de 1980 e em períodos nos anos 90 e 00 – entenda isso como quiser –, mas sempre andou na marginalidade em relação às grandes paradas. Céu resgata, neste último trabalho, o reggae e o fusiona com a sua música, trazendo novamente um álbum com misturas que nunca se sabe se vão dar certo, mas – felizmente – dão! Neste álbum, Céu também divide os vocais com Luis Melodia no choro Vira Lata. Além disso, arriscou transformar o samba-rock de Jorge Ben, Rosa Menina Rosa, em algo sem muita classificação.

Difícil tarefa dos vendedores de CDs. Em que seção eles enfiariam esse disco? Será que foi para casos como esse que inventaram a seção MPB? Enfim, divagações a parte, o Vagarosa segue o mesmo caminho do primeiro álbum de Céu, que leva o nome da cantora, e será distribuído no Brasil bem como na “gringa”. O primeiro, que também foi para fora, chegou a vender 30 mil unidades nas duas primeiras semanas de comercialização nos EUA.

Ouça a música “Cangote”

Álbum completo

Lendo várias resenhas e críticas – no pior dos sentidos – a este álbum, me senti um peixe fora d´água. Não é possível que a ‘crítica especializada’ não tenha gostado deste CD. Foi quando que confessei isto a um amigo que logo disparou: Vinícius, ‘don’t believe the hype’. Daí tudo voltou a ser colorido e passei a acreditar que fiz o certo no lead aí em cima. Enfim, para mim, a Céu, foi sim, uma lição de vida.

Céu

mraz

Em turnê pelo 3º álbum, Jason Mraz consolida sua carreira de cantor pop. Apesar de que se falando em pop, fica difícil afirmar qualquer coisa. Mas o fato é o seguinte: Jason lançou o cd mais bem-sucedido de sua carreira, o We Sing. We Dance. We Steal Things.Jason

O álbum leva pitadas de folk, soul e, também, carregado de elementos da música pop, como na música Lucky, em parceria com Colbie Cailla. Lucky é o terceiro single do último disco de Mraz, lançado em 2008. O pop tem alguns problemas, pois mais cedo ou tarde a música vai se tornar irreconhecível, extremamente chata. Como a música you are beautiful, de James Blunt: a música é linda, mas subitamente ela se torna repetitiva e cansativa.

Particularmente, me interessei apenas pelas três primeiras músicas do disco, realmente muito boas. Esse é o caso de que vale a pena comprar somente o single.

Quem quiser ouvir mais do álbum, está aqui a dica.

jorge-drexler

Pagar R$ 6,80 por um chopp Stella Artois numa sofisticada casa de show paulistana – a Bourbon Street – até que não estava tão mal. Peguei minha comanda e esperava pela birita que não vinha. Foi necessário o funcionário do caixa gritar [novamente] para o funcionário ao lado “tirar” o meu chopp. Não havia nada o que fazer: estava ecoando pelos auto-falantes a música de Jorge Drexler. Estava ali. Ao vivo. E surpreendendo até mesmo aqueles que, teoricamente, não foram ao Bourbon Street Club para participar da festa.

Provavelmente aquele barman já viu grandes nomes da música naquele palco – a casa de show já recebeu B.B King, Diana Krall, entre outros consagrados artistas. Mas um uruguaio que cantava, também, em italiano e morava na Espanha, isso sim era muito excêntrico. Contraditório, alguns poderiam dizer. Assim Drexler também se assume, como canta em Disneylândia, canção gravada em seu último álbum de estúdio – 12 segundos de oscuridadrexlerd – e composta por Arnaldo Antunes:

“Armênios naturalizados no Chile
Procuram familiares na Etiópia,
Casas pré-fabricadas canadenses
Feitas com madeira colombiana
Multinacionais japonesas
Instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria prima brasileira
Para competir no mercado americano”

Contradições que o acompanharam até uns dos momentos mais importantes de sua carreira: a premiação do Oscar. Mesmo sendo indicado ao prêmio de melhor canção pelo filme de Walter Salles, Diário de Motocicleta, não pôde cantar durante a festa, pois, segundo Drexler, não era, até então, famoso nos Estados Unidos.

oscarO desfecho da história é conhecido: ganhou o prêmio de melhor canção e cantou duas estrofes de sua milonga, Al Otro Lado del Rio, deixando de lado o discurso de vencedor. O prêmio apenas consagrou para os americanos o talento deste uruguaio, já que desde 2000 ele tem recebido diversas premiações em países latinos. A canção vencedora do Oscar foi composta e gravada na mesma manhã em seu notebook e foi dessa mesma forma que ela chegou ao filme, à base de muita insistência de Walter Sales: sem regravar no estúdio, usada como ele recebeu em sem email, em MP3. Foi o necessário para Drexler receber a estatueta da maior festa de Hollywood.

E foi toda esta carga de talento que Jorge Drexler despejou na última quinta-feira, dia 2, em São Paulo. Sozinho no palco, apenas com seu violão, alternado com a guitarra, foi o bastante para fazer a sua música. Em algumas faixas, os dois auxiliares de som do músico o acompanharam ao palco, tocando desde serrote a ukulele, como na faixa em italiano Lontano, Lontano.

O show, intitulado de Cara B [Lado b], trouxe canções, em ritmo de milonga, de artistas que influenciaram a obra de Drexler, como Leonard Cohen e Caetano Veloso. Além de cantar em italiano, ele cantou em português, inglês, catalão e espanhol. Fazendo até uma versão em espanhol da música Sampa para os montevideanos. Jorge arriscou até o refrão de Billie Jean a pedido de um fã da platéia, para homenagear o Rei do Pop.

Quando enfim o barman me entregou o chopp senti que havia uns dois dedos a mais de colarinho. Nem pude reclamar. Com um artista tão talentoso a poucos metros, ali no palco, não era uma tarefa fácil se concentrar. Então logo pensei: que má hora para sair do meu lugar e comprar uma cerveja.

michael jackson

Durante os ensaios do filme The Wiz, Michael se aproximou timidamente do produtor Quincy Jones e perguntou se ele conhecia alguém que poderia produzir seu próximo disco solo. Jones titubeou, mas lançou: “eu produzo seu próximo álbum”. E foi ali, naquele ensaio, que a música viu o seu pote de ouro no fim do arco-íris: a junção de Jones e Michael Jackson formou um dos maiores tesouros da música pop.

Até o momento, não havia tanto glamour em assumir o próximo disco de M.J. Sem dúvida era um jovem talentoso, mas não conseguiu fazer uma transição bem-sucedida da sua carreira entre a infância e a adolescência. Na contramão de Stevie Wonder, na época Little Stevie Wonder, que manteve o sucesso em cada álbum que lançava na sua adolescência, Michael se encurralava na sua fama de um grande artista da música negra, mas dividia o reconhecimento com grandes cantores lançados, na época, pela gravadora Motown, como: Marvin Gaye, Diana Ross e Ricky James.

Após discos sem tanta repercussão como Music and Me e Forever, Michael, MJ e o seu produtor entraram em estúdio para gravar Off The Wall e o resultado é de um filme água com açúcar de final feliz: depois de inúmeros insucessos se consegue um feito surpreendente. Porém, a vida de Michael não pode ser comparada a um filme. Nenhum ser humano conseguiria ter a criatividade de inventar os desdobramentos da vida profissional e pessoal dele a partir de Off The Wall.

Mas foi a primeira parceria entre Michael e Quincy que teve o mesmo resultado, comparado aos dois próximos discos que seriam produzidos juntos – Thriller e Bad – mesmo com resultados tão bons: milhões de cópias vendidas e abocanhando todos os prêmios dos seus respectivos anos, fazendo a festas para aqueles jornalistas que adoraram encher de números e estatísticas as suas matérias.


Basta dizer, além dos números, que o Michael Jackson bateu, até hoje, todos os índices do sucesso e se tornou o King of Pop, ou o Rei do Pop, na língua de Camões. Nem os Beatles e nem o Elvis, mas, sim, Michael Jackson é o maior ícone da indústria cultural. E não haverá outro pra destronar Michael. Não há mais a estrutura para que possa surgir outro fenômeno como desse astro camaleão – que também fez a alegria dos jornalistas que não perdem a chance de fazer um trocadilho.

Michael Jackson é o maior ícone da cultura do best seller da indústria cultural. Tal indústria que viu a música como um bem de consumo a partir de Elvis, que criou uma estrutura com os Beatles, com vídeos-clipe, turnês, produtos, etc; e que viu MJ conseguir extrair tudo dessa estrutura, deixando só o bagaço que aos poucos se encaminha para a lixeira.

É isso mesmo! Michael Jackson aponta o auge de um modo de consumir música com o disco Thriller, que persevera como o álbum mais bem-sucedido de todos os tempos em números de cópias vendidas; e se vai desse mundo dando um último suspiro para essa indústria que tanto viveu às suas custas. Deu as gravadoras uns anos a mais para faturarem em cima de coletâneas, tributos e DVDs “inéditos”; até, enfim, desaparecerem.

Até por isso, Michael continuará sendo o mito e o maior nome da música do século XX, se prolongando pelos próximos anos – já que depois que qualquer pessoa morre se torna ainda melhor. Em alguns anos seremos velhos e poderemos falar que vimos o mesmo homem ser branco e negro, que andava para trás como se tivesse flutuando, tinha swing, falsete invejável e era um fantástico compositor. MJ conseguirá o incrível: ser ainda mais mito do que já é.