Nas linhas abaixo você não vai encontrar nenhuma tentativa de descrever o Radiohead, em especial, o show do dia 22 de março, em São Paulo, com frases “pra lá” de rebuscadas ou com um punhado de neologismo que tentam explicar esse mundo “radioheadiano” (Ok! Prometo que este será o último).

O que aconteceu neste último domingo na Chácara do Jóquei, na capital paulista, foi a junção de dois tipo de públicos: os curiosos e os fãs – extremamente apaixonados, para assistir uma das bandas que mais provoca reações mundo afora.

Os curiosos vêm daquele tipo de pensamento: “pô, sei que isso é bom. Mas ainda não sei o porquê”. Já os mais bem resolvidos são aqueles que conseguiram acompanhar o caminho percorrido desde o disco brit/pop/rock (ou qualquer nomenclatura cool) “Pablo Honey” – que traz a faixa Creep, que disputa com Loser, do Beck, o título de hit do adolescente fracassado – até o mais recente álbum, In Rainbows

E este público é grande. Só em São Paulo, mais de 30 mil pessoas se arriscaram a ganhar um banho de chuva e, ainda, gastar uma bagatela de R$100 a R$200 para assistir ao primeiro show do Radiohead em terras brasileiras. Apesar de mais de 20 anos de carreira, essa foi a primeira aparição destes ingleses de Oxford no Brasil. Por causa de tanta expectativa, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram “mecas tupiniquins” dos fãs (e curiosos) da banda. Por isso, o que não faltou foram ônibus vindos de norte a sul do país, para desembocarem no eixo Rio-São Paulo.

As bandas Los Hermanos e Kraftwerk abriram o show do Radiohead. Duas bandas de peso: Los Hermanos era uma das maiores bandas do Brasil em 2007, quando repentinamente romperam as atividades para “jogar truco”, às terças a noite. Já a banda Kraftwerk surgiu no início dos anos 70 e preserva sua sonoridade até hoje. Com uma apresentação densa e de difícil compreensão, fez com que as pessoas que já gostavam da banda fossem os principais telespectadores desses quatro “tiozões” alemães.

Quem esperava um show empolgante do Los Hermanos, relembrando as performances dos rapazes em seu auge, ficou só na vontade. Aliado a uma falta de entrosamento, a aparelhagem que foi destinada à banda não ajudou os ex-barbudos. Os fãs de Los Hermanos esperavam por um show imponente do quarteto carioca. Mas, como o próprio tecladista do LH, Bruno Medina, reconheceu, o som não colaborou para o espetáculo: “tudo foi perfeito, a exceção de dois pormenores: a desconfiança de que a ordem do roteiro não favoreceu algumas músicas e a chateação que foi descobrir, ao final do show, que havia uma limitação imposta ao volume de nossa apresentação, por sermos a banda de abertura”, comentou o acanhado tecladista em seu blog.

Em São Paulo, às 22h

Os cinco ingleses (Thom, John, Colin, Ed e Phil) subiram às 22h no palco, com uma pontualidade característica da terra natal desses músicos; virtude rara neste lado de baixo do equador.

Com um setlist feito para fãs e curiosos, o show de São Paulo reuniu músicas conhecidas do público, como aquelas que passavam, por exemplo, no Disk MTV, como Karma Police, Paranoid Android, Fake Plastic Tree, Creep, entre outras.

Porém, bandas como o Radiohead não se limitam a execuções de músicas pontuais, como os singles lançados. A apresentação forte e sincera de cada música faz os sentimentos explodirem em cada compasso.

Confiante no seu “taco”, os ingleses executaram do início ao fim o seu mais recente álbum. Como poucas bandas conseguem, o Radiohead tocou faixa-a-faixa do In Rainbows sem perder o pulso da platéia que se convencia a cada música, interpretada por Thom Yorke, que ele sabia o que estava fazendo, e sabia bem qual música escolher para impressionar o público novamente em seguida.

O show pareceu um grande playback. Músicas com arranjos inimagináveis para o ao vivo. Nos telões que transmitiam as imagens do show para aquelas pessoas no fundo da Chácara do Jóquei e que só conseguiam enxergar os integrantes como pequenos bonecos lego, eram exibidas imagens em close das expressões de cada músico, com um filtro monocromático e transições arrojadas. Tudo isto trazia mais ainda a sensação de que tudo era um grande playback. Mas não era.

Acompanhado da explosão de cores que a montagem de luz trouxe, a turnê de In Rainbows fica marcada como um dos espetáculos de entretenimento mais bem produzidos da atualidade. Era uma montagem elegante, sóbria e ligada às notas que ecoavam pelos potentes altos falantes da estrutura do show. Enquanto Yorke cantava “every thing in its right place”, as luzes esculpiam no palco a letra da canção, simultaneamente.

Dessa forma, o show foi alternando entre o eletrônico e o rock. Mesmo com um setlist extenso, ficaram fora do repertório canções conhecidas do público como “High and Dry” e “No Suprise”.

Ao fim, a platéia já não sabia mais se pedia outros “bis” para a banda ou não, por dois motivos: primeiro que o show foi denso, mesmo antes do fim já se sentia uma sensação de sobrecarga de sentimentos com cada interpretação da banda; segundo porque o Radiohead saiu e voltou do palco duas vezes para tocar a “saidera”. Pedir, mais uma vez, o “bis” novamente parecia abusar do quinteto. Mas eles pareciam não se importar.

O saldo do show foi único, tanto para curiosos quanto para fãs: uma noite indescritível. Até os críticos, que geralmente são pessoas chatas, foram uníssonos quanto a qualidade do Radiohead em cima do palco: uma banda madura e que sabe o que faz

Então, terminando essas poucas linhas de texto que faltam, “corra” para o youtube, procure os vídeos da apresentação no Brasil e sinta essa explosão de cores da atual turnê do Radiohead. Aproveite e tente entender como eles conseguiram deixar 30 mil pessoas perplexas – o que, apesar de ser uma sensação nova para a maioria do público, deve ser rotina para eles, do Radiohead.