setembro 2009


Nação ZumbiEnquanto lá no outro lado do Atlântico, na ilha da rainha, o movimento musical da década de 1990, o Britpop, parece não ter mais força após o fim [mais uma vez] da banda referência do período, o Oasis. Enquanto isso, no Brasil, a situação é outra: as bandas ´noventistas´ estão fazendo mais barulho ainda – o barulho do caos.

Neste último final de semana, na sexta-feira, 18 de setembro, foi comemorado em São Paulo os 15 anos do lançamento do álbum Da lama ao Caos. O CD deu o pontapé inicial em um dos movimentos musicais mais emblemáticos da década passada – e um dos que mais tinha o que falar. Com shows das bandas Nação Zumbi, no Citibank Hall, e do Mundo Livre S/A, no Studio SP, os pernambucanos mostraram na capital paulista que o mangue beat continua a influenciar e a fazer história.

O manifesto “Caranguejo com Cérebro”, escrito por Fred 04, vocalista do Mundo Livre, foi responsável pela unidade ideológica entre algumas bandas de Recife, que contribuiu para formar o contorno de movimento a um grupo de pessoas que buscavam encontrar na riqueza regional ferramentas culturais fortes. “Hoje, Os ´mangueboys´ e ´manguegirls´ são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.”, diz um trecho do manifesto.

“A importância do Nação Zumbi foi total, pois abriram caminho para essa nova geração e ainda abrem e estão bem na frente de todo mundo”, comenta Dengue, baixista da Nação Zumbi. Inspirados na trupe liderada pelo então vocalista, Chico Science, é que dezenas de bandas pernambucanas despontam na cena musical brasileira, ainda trazendo na essência a inovação do mangue beat (leia Bandeirantes Pernambucanos).

“Eu acho que o mangue beat é um movimento muito bom porque ele preza pela união dos artistas e ao mesmo tempo pela diversidade. Para artistas novos como o Mombojó, é muito gratificante fazer parte disso tudo. Muitas vezes nós já chegamos nos lugares ´ganhando de 1 a zero´ porque o nome de Pernambuco é muito valorizado por  causa de artistas como a Nação Zumbi e o Mundo Livre”, confessa Marcelo Machado, integrante do Mombojó.

Os protagonistas desta efervescência não se consideram líderes ou mesmo o mangue beat como um movimento. “Nunca pensamos nisso como um gênero, um movimento como a bossa nova ou o tropicalismo. Não somos carro-chefe de nada”, comenta o guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia. Apesar de não se considerarem um movimento, a verdade é que tanto o Citibank Hall, quanto o Studio SP, estavam cheios de ´mangueboys´ e ´manguegirls´ para celebrar os 15 anos do lançamento do álbum do Da Lama ao Caos. Com participações de Fred 04, Otto e B Negão, o Nação fez, no dia 18, um show com repertório baseado no seu álbum debutante. Com a mesma potência da guitarra de Lúcio Maia e o peso da percussão da lama e do caos das raízes pernambucanas.

No dia seguinte ao show do Nação Zumbi, o Mundo Livre S/A subiu ao palco do Studio SP e destilou ao som do cavaquinho e da guitarra a nóia política e o maracutu do Samba Esquema Noise, lançado, também em 1994.

_enquanto isso…

Fred 04 está cada vez menos caos e mais pragmático. Tanto em sua participação no show do Nação Zumbi, na Conexão PE, no Citibank Hall, quanto em seu show no dia 19, o vocalista disparou contra a internet e contra o computador. Exigindo mais regulação sobre o compartilhamento de música na internet, mais vigilância.

O fim de semana do caos em São Paulo pode mostrar que, apesar dos quinze anos do “início”, o mangue beat está ainda pulsante e criativo. Sem parar de produzir, ao contrário, continua inovando e trazendo novas propostas musicais – ou de caos. Como diz a música chefe do Da Lama ao Caos: “É me desorganizando que posso me organizar”.

sondre

Depois do Los Angeles Times, The Guardian e a Rolling Stones fazerem coro ao talento de Sondre Lerche, tive que fazer algo não convencional: concordar com crítica musical. Nada contra os críticos e suas avaliações, só que a arte é absorvida diferentemente por cada pessoa; portanto, aquelas entrelinhas para classificar a qualidade de um álbum – ou filme, etc… – não fazem muito sentido, né?

Sem mais devaneios, o que importa são os álbuns despretensiosos de Lerche. Norueguês da cidade de Bergen, ele começou a balangar as cordas do violão aos 8 anos e aos 16 já assinava um contrato para lançar seu primeiro álbum pela gravadora Virgin/EMI. “I had to start singing to get all these songs out there,” diz Lercher. “No one else was going to!”

Com 5 albuns já lançados e o próximo – Heartbeat Radio- com previsão para este mês de setembro, o musico norueguês desponta com a simplicidade e a poesia de suas canções. Estilo único que o fez ser “intimado” para produzir a trilha sonora do filme Dan in Real Life, simplesmente uma trilha sonora fantástica: sem excessos e, ao mesmo tempo, plástica. “The director wanted a musician to work with and he convinced both me and the Disney Corporation that I was the only one who could do it”, é o ele que diz em sua biografia oficial.

Lerche mistura em suas canções a pegada slowdown da música brasileira da década de 60 e 70 com a musicalidade de Elvis Costello, ele resume isso em Dead Passenger: a primeira música de seu disco de estréia – Faces Down.Sondre Lerche

A trilha de Dan in real life é simplesmente o que me impulsionou para escrever este post, mas a mistura da sonoridade de Lerche em cada álbum é tão singular que fica fácil de se perder ao falar dele.

Mas está aqui um bom ponto de partida: o [download do] álbum da trilha sonora de Dan in Real Life.