Mombojo

Quando não vinham do Sul do País, os rebeldes da situação já eram conhecidos: a turma lá de cima, do Nordeste. Lá se vão muitos anos, coisa de século 19. E era do Sudeste, no Rio de Janeiro, que vinha a ordem: mandem as tropas para lá. E foi nesse vai-vem de querer a independência – e os pernambucanos tinham suas razões: pobreza generalizada e o pagamento de altos tributos ao Império – que muitas cabeças rolaram, literalmente.

Pernambuco, principalmente as cidades de Recife e Olinda, tinha sempre aquele estado de ebulição. Como uma das primeiras cidades brasileiras a se firmar ainda no tempo de colônia, os ideais liberais já tomaram conta dos pensadores das cidades, enquanto em outras regiões o que importava ainda era o Café-com-Leite.

Essa ebulição permanece até hoje, principalmente na área cultural das cidades. Por outro lado, a nova safra de artistas abandona as raízes separatistas e desbravam o País levando os fortes traços da cultura pernambucana, principalmente no grande centro brasileiro: São Paulo. “Temos uma carga cultural forte, própria de quem é do Recife. Isso é uma identidade. Uma marca”, comenta Lucio Maia, integrante da banda Nação Zumbi.

A banda Nação Zumbi, junto com a banda Mundo Livre S/A, foi o marco zero da referência pernambucana na cena pop brasileira; as duas bandas foram o porta-estandarte do movimento Manguebeat, o qual mistura rock, hiphop, maracatu e música eletrônica. Este ano, se completa os 15 anos do primeiro álbum do Chico Science e a Nação Zumbi, Da Lama ao Caos.

Pouco mais de uma década e meia após a consolidação do movimento pernambucano, por meio do manifesto do mangue, um punhado de bandas despontam bem cotadas nas noites paulistas. Mombojó, China, Eddie, 3 na Massa, Vitor Araújo, Seu Chico e DizMaia são apenas algumas das bandas que romperam a membrana de seu estado de origem e enchem casas noturnas pelo Brasil, principalmente no circuito alternativo paulistano. Quase toda semana uma banda pernambucana sobe aos palcos de alguma casa de show de São Paulo. E o sucesso não são pelas dancinhas esquisitas do China ou do Felipe S. – do Mombojó -, definitivamente.

O clube Studio SP se tornou a Meca daquela região na capital paulista, ‘vísse‘? Apesar de muitas atrações pernambucanas, o público é formado, basicamente, por paulistanos. Não é difícil encontrar algum dia do mês o show da 3 na Massa, Del Rey ou Seu Chico. “A diferença dos shows em São Paulo é que o público está mais acostumado a pagar para ir aos shows”, comenta o guitarrista do Mombojó Marcelo Machado sobre a diferença do público paulista e pernambucano.

Talvez Pernambuco seja o estado que mais atue musicalmente na cidade de São Paulo. Mesmo “a cidade sendo sempre muito acolhedora com todos”, como diz Dengue, da banda 3 na Massa; Recife e arredores têm um espaço grande com os jovens de todos cantos do País que vivem na capital paulista. “Talvez pela proposta musical, ou pelo fato de sermos de outra região. Há sempre um interesse mútuo de trocar toda sorte de informações. Pode ser tudo isso junto ou nada disso. É difícil saber quando você está dentro do processo”, filosofa Dengue, que, além de ser integrante do 3 na massa, também faz parte do Nação Zumbi desde seu início.

O lugar comum entre os artistas é que em São Paulo há espaços para todas as manifestações culturais. A partir daí, cada um faz o seu show, de fato. “Em São Paulo tudo tende a acontecer porque sempre tem pessoas interessadas em idéias novas. O Sesc SP abraça muitas causas que a grande mídia vira as costas. O número de casas de shows é grande e tem espaço pra todos. Isso mantém as possibilidades vivas”, explica o guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia.

Segundo Fábio Trummer, vocalista da banda Eddie, os espaços sempre disponíveis para a sua música também viabilizam um maior contato com o público. “Temos uma boa aceitação nos centros ‘sudestinos’, mantemos uma regularidade de shows, o que facilita esta aceitação. Mas, no geral, são sempre positivas nossas apresentações no Sudeste, nos centros e nas cidades menores.”

montagem
Da lama ao caos

A cidade de São Paulo também se tornou o ‘meio do caminho’ para as bandas se encontrarem e trocarem figurinhas. “Somos todos amigos e gostamos de estar juntos, seja trabalhando, seja simplesmente enchendo o saco uns dos outros [coisa que gostamos mais do que trabalhar]”, brinca Dengue.

Muitos músicos dessa safra já moram na capital paulista e aproveitam para dar uma palhinha no show dos conterrâneos, quando eles aparecem. Foi o caso do show do Mombojó no Studio SP, em março, quando reuniu, além da banda anfitriã, o China e o pianista Vitor Araújo no mesmo palco. “Há um intercâmbio que se dá de formas variadas: alguns são amigos, outros são músicos convidados a gravar ou tocar, outros são divulgadores, outros cantam as musicas de outros”, comenta o vocalista da banda Eddie.seuchico

Vitor Araújo começou a despontar no cenário musical como o menino-prodígio da música clássica. Anos se passaram e a estatura de menino foi ficando para traz e o talento prodígio crescendo; hoje, com 19 anos, ele trabalha em paralelo com uma banda de releituras dos sambas de Chico Buarque. Combinação que deu certo e lota casas de show por onde passa.

Para Marquinhos, vocalista da banda cover de Tim Maia, a DizMaia, “nessas cidades [São Paulo e Rio de Janeiro], a probabilidade é, com certeza, bem maior. Mas também é verdade que é preciso estar no lugar certo e na hora certa”.

Os novos pernambucanos já passeiam pela garoa de São Paulo e já a curtem numa boa. “O povo de Pernambuco que mora em São Paulo se encontra mais para encher a cara do que para fazer som”, Lucio Maia dispara ao fechar o papo. E pelo jeito, curtem mesmo, numa boa.


chet baker

Tudo bem. Estamos até um pouco atrasados. Já faz 21 anos, dois meses e alguns dias. Mas isso não importa tanto. Certamente somos o primeiro veículo a lembrar, neste ano, que em 13 de maio de 1988 um dos mais versáteis trompetistas da história do jazz partia, num trágico acidente em Amsterdã, na Holanda.

Talvez não seja nem tanto mérito ser um dos únicos veículos a publicar algo sobre Baker neste ano, já que o que faz o frisson de jornalistas e da imprensa são datas que sejam múltiplas de cinco, como 15, 20, 25, ∞. Pelo jeito, essa matéria está mesmocom um ano de atraso.chet4

De qualquer forma, a obra de Chet Baker continua sendo fantástica neste hiato de quatro anos. Músico talentoso de Oklahoma, interior dos EUA. Nasceu no ano da grande depressão, 1929, e provavelmente a tristesse do período tenha influenciado sua música : recheada de melancolia entre os compassos dos solos de trompete.

Música que nunca ficou no esquecimento: interpretada por nomes que vão desde Miles Davis a Jamie Cullum. Talvez Baker seja o grande nome do jazz que transitou com elegância entre a música instrumental e as sussurradas interpretações de sua voz, como I fall in love too easily. Sussurros, que dizem por aí, que foram rapidamente incorporados por João Gilberto à sua música. Elegante e intimista, Baker, influenciou o gênero brazuca mais em alta no exterior: a bossa nova. Essa ligação pôde ficar ainda mais clara quando um dos parceiros de Chet, Stan Getz, gravou com Tom Jobim e João Gilberto uma série de álbuns que serviram de cartão de visita da bossa para o resto do mundo. Musicas que falavam de Copacabana, corcovado, desafinados e [porque não?] patos.

Sussurros e solos melancólicos deram o rótulo de cool para as musicas dele. Apesar da calmaria de suas interpretações, Baker sempre enfrentou, durante a sua carreira, problemas com a dependência de drogas, o que o levou a ter altos e baixos na sua história musical. Mesmo com discos antológicos como Chet Baker in Paris e com versões que se tornaram o manual básico para os músicos de jazz como Angel eyes e When I fall in love, o músico do modesto Oklahoma caiu no ostracismo pelo vício de drogas. Depois de perder parte dos dentes da boca, após uma surra por causa de uma dívida com traficantes, Baker teve que reinventar o seu jeito de tocar trompete, já que perdera a anatomia de sua boca.

Foi dessa forma que ele se apresechet1ntou no Free Jazz, no Brasil, em 1985. Na ocasião Chet fez duas performances: uma no Rio e outra em São Paulo. Em sua apresentação no Rio ele chegou atrasado. Segundo a “lenda”, ele estava na praia tomando caipirinha e esquecera-se do show. Quando foi fazer a apresentação já estava “calibrado” e não rendeu tanto.

Já o show na terra da garoa, foi uma apresentação que a crítica da época elogiou bastante e por pouco o Maksoud Plaza, em São Paulo, não se tornou o cenário de sua morte. O músico roubou a maleta do médico que o acompanhava, tomou uma overdose de medicamentos e quase morreu. O que efetivamente aconteceu três anos mais tarde, em Amsterdã, quando Chet caiu da janela de um hotel. Após o acidente a perícia encontrou drogas em seu quarto.

Baker morreu, mas deixou um legado ímpar na história do jazz. Influência de músicos jovens como Diana Krall, Norah Jones, Jamie Cullum, a banda brasileira Delicatessen Jazz e até de gigantes do jazz como Miles Davis. E por falar em Davis, em breve ele deve ocupar todas as capas de jornais, de revistas especializadas e de tributos, já que o álbum Kind of blues tem a combinação perfeita dos ‘critérios’ jornalísticos: o disco mais vendido da história do jazz e a comemoração dos 50 anos do álbum.

Texto publicado na edição nº295 da Revista Paradoxo

Acredito que os trocadilhos entre Céu e a beleza da cantora se acabaram no primeiro disco. Que pena! Logo eu que queria iniciar o texto de maneira “descolada” e “inteligente”. Enfim, o meu primeiro parágrafo já está se acabando – o famigerado lead – e não fiz nada que o deixasse hype.

Mas vamos ao que interessa: o novo álbum da cantora Céu, Vagarosa. Com uma sobrecarga de expectativas sobre este segundo trabalho, já que a moça foi eleita pela crítica especializada – se é que existe – como a promessa da MPB, Céu traz em seu novo disco músicas com a mesma brasilidade do primeiro, adicionando algumas novas influências. Faixa a faixa, Vagarosa tem ritmos quebrados e, muitas vezes, no contratempo, sonoridades de teclado rCéuhoades e uma cadência reggae.

O reggae fez muita fumaça nos anos de 1980 e em períodos nos anos 90 e 00 – entenda isso como quiser –, mas sempre andou na marginalidade em relação às grandes paradas. Céu resgata, neste último trabalho, o reggae e o fusiona com a sua música, trazendo novamente um álbum com misturas que nunca se sabe se vão dar certo, mas – felizmente – dão! Neste álbum, Céu também divide os vocais com Luis Melodia no choro Vira Lata. Além disso, arriscou transformar o samba-rock de Jorge Ben, Rosa Menina Rosa, em algo sem muita classificação.

Difícil tarefa dos vendedores de CDs. Em que seção eles enfiariam esse disco? Será que foi para casos como esse que inventaram a seção MPB? Enfim, divagações a parte, o Vagarosa segue o mesmo caminho do primeiro álbum de Céu, que leva o nome da cantora, e será distribuído no Brasil bem como na “gringa”. O primeiro, que também foi para fora, chegou a vender 30 mil unidades nas duas primeiras semanas de comercialização nos EUA.

Ouça a música “Cangote”

Álbum completo

Lendo várias resenhas e críticas – no pior dos sentidos – a este álbum, me senti um peixe fora d´água. Não é possível que a ‘crítica especializada’ não tenha gostado deste CD. Foi quando que confessei isto a um amigo que logo disparou: Vinícius, ‘don’t believe the hype’. Daí tudo voltou a ser colorido e passei a acreditar que fiz o certo no lead aí em cima. Enfim, para mim, a Céu, foi sim, uma lição de vida.

Céu

mraz

Em turnê pelo 3º álbum, Jason Mraz consolida sua carreira de cantor pop. Apesar de que se falando em pop, fica difícil afirmar qualquer coisa. Mas o fato é o seguinte: Jason lançou o cd mais bem-sucedido de sua carreira, o We Sing. We Dance. We Steal Things.Jason

O álbum leva pitadas de folk, soul e, também, carregado de elementos da música pop, como na música Lucky, em parceria com Colbie Cailla. Lucky é o terceiro single do último disco de Mraz, lançado em 2008. O pop tem alguns problemas, pois mais cedo ou tarde a música vai se tornar irreconhecível, extremamente chata. Como a música you are beautiful, de James Blunt: a música é linda, mas subitamente ela se torna repetitiva e cansativa.

Particularmente, me interessei apenas pelas três primeiras músicas do disco, realmente muito boas. Esse é o caso de que vale a pena comprar somente o single.

Quem quiser ouvir mais do álbum, está aqui a dica.

jorge-drexler

Pagar R$ 6,80 por um chopp Stella Artois numa sofisticada casa de show paulistana – a Bourbon Street – até que não estava tão mal. Peguei minha comanda e esperava pela birita que não vinha. Foi necessário o funcionário do caixa gritar [novamente] para o funcionário ao lado “tirar” o meu chopp. Não havia nada o que fazer: estava ecoando pelos auto-falantes a música de Jorge Drexler. Estava ali. Ao vivo. E surpreendendo até mesmo aqueles que, teoricamente, não foram ao Bourbon Street Club para participar da festa.

Provavelmente aquele barman já viu grandes nomes da música naquele palco – a casa de show já recebeu B.B King, Diana Krall, entre outros consagrados artistas. Mas um uruguaio que cantava, também, em italiano e morava na Espanha, isso sim era muito excêntrico. Contraditório, alguns poderiam dizer. Assim Drexler também se assume, como canta em Disneylândia, canção gravada em seu último álbum de estúdio – 12 segundos de oscuridadrexlerd – e composta por Arnaldo Antunes:

“Armênios naturalizados no Chile
Procuram familiares na Etiópia,
Casas pré-fabricadas canadenses
Feitas com madeira colombiana
Multinacionais japonesas
Instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria prima brasileira
Para competir no mercado americano”

Contradições que o acompanharam até uns dos momentos mais importantes de sua carreira: a premiação do Oscar. Mesmo sendo indicado ao prêmio de melhor canção pelo filme de Walter Salles, Diário de Motocicleta, não pôde cantar durante a festa, pois, segundo Drexler, não era, até então, famoso nos Estados Unidos.

oscarO desfecho da história é conhecido: ganhou o prêmio de melhor canção e cantou duas estrofes de sua milonga, Al Otro Lado del Rio, deixando de lado o discurso de vencedor. O prêmio apenas consagrou para os americanos o talento deste uruguaio, já que desde 2000 ele tem recebido diversas premiações em países latinos. A canção vencedora do Oscar foi composta e gravada na mesma manhã em seu notebook e foi dessa mesma forma que ela chegou ao filme, à base de muita insistência de Walter Sales: sem regravar no estúdio, usada como ele recebeu em sem email, em MP3. Foi o necessário para Drexler receber a estatueta da maior festa de Hollywood.

E foi toda esta carga de talento que Jorge Drexler despejou na última quinta-feira, dia 2, em São Paulo. Sozinho no palco, apenas com seu violão, alternado com a guitarra, foi o bastante para fazer a sua música. Em algumas faixas, os dois auxiliares de som do músico o acompanharam ao palco, tocando desde serrote a ukulele, como na faixa em italiano Lontano, Lontano.

O show, intitulado de Cara B [Lado b], trouxe canções, em ritmo de milonga, de artistas que influenciaram a obra de Drexler, como Leonard Cohen e Caetano Veloso. Além de cantar em italiano, ele cantou em português, inglês, catalão e espanhol. Fazendo até uma versão em espanhol da música Sampa para os montevideanos. Jorge arriscou até o refrão de Billie Jean a pedido de um fã da platéia, para homenagear o Rei do Pop.

Quando enfim o barman me entregou o chopp senti que havia uns dois dedos a mais de colarinho. Nem pude reclamar. Com um artista tão talentoso a poucos metros, ali no palco, não era uma tarefa fácil se concentrar. Então logo pensei: que má hora para sair do meu lugar e comprar uma cerveja.

michael jackson

Durante os ensaios do filme The Wiz, Michael se aproximou timidamente do produtor Quincy Jones e perguntou se ele conhecia alguém que poderia produzir seu próximo disco solo. Jones titubeou, mas lançou: “eu produzo seu próximo álbum”. E foi ali, naquele ensaio, que a música viu o seu pote de ouro no fim do arco-íris: a junção de Jones e Michael Jackson formou um dos maiores tesouros da música pop.

Até o momento, não havia tanto glamour em assumir o próximo disco de M.J. Sem dúvida era um jovem talentoso, mas não conseguiu fazer uma transição bem-sucedida da sua carreira entre a infância e a adolescência. Na contramão de Stevie Wonder, na época Little Stevie Wonder, que manteve o sucesso em cada álbum que lançava na sua adolescência, Michael se encurralava na sua fama de um grande artista da música negra, mas dividia o reconhecimento com grandes cantores lançados, na época, pela gravadora Motown, como: Marvin Gaye, Diana Ross e Ricky James.

Após discos sem tanta repercussão como Music and Me e Forever, Michael, MJ e o seu produtor entraram em estúdio para gravar Off The Wall e o resultado é de um filme água com açúcar de final feliz: depois de inúmeros insucessos se consegue um feito surpreendente. Porém, a vida de Michael não pode ser comparada a um filme. Nenhum ser humano conseguiria ter a criatividade de inventar os desdobramentos da vida profissional e pessoal dele a partir de Off The Wall.

Mas foi a primeira parceria entre Michael e Quincy que teve o mesmo resultado, comparado aos dois próximos discos que seriam produzidos juntos – Thriller e Bad – mesmo com resultados tão bons: milhões de cópias vendidas e abocanhando todos os prêmios dos seus respectivos anos, fazendo a festas para aqueles jornalistas que adoraram encher de números e estatísticas as suas matérias.


Basta dizer, além dos números, que o Michael Jackson bateu, até hoje, todos os índices do sucesso e se tornou o King of Pop, ou o Rei do Pop, na língua de Camões. Nem os Beatles e nem o Elvis, mas, sim, Michael Jackson é o maior ícone da indústria cultural. E não haverá outro pra destronar Michael. Não há mais a estrutura para que possa surgir outro fenômeno como desse astro camaleão – que também fez a alegria dos jornalistas que não perdem a chance de fazer um trocadilho.

Michael Jackson é o maior ícone da cultura do best seller da indústria cultural. Tal indústria que viu a música como um bem de consumo a partir de Elvis, que criou uma estrutura com os Beatles, com vídeos-clipe, turnês, produtos, etc; e que viu MJ conseguir extrair tudo dessa estrutura, deixando só o bagaço que aos poucos se encaminha para a lixeira.

É isso mesmo! Michael Jackson aponta o auge de um modo de consumir música com o disco Thriller, que persevera como o álbum mais bem-sucedido de todos os tempos em números de cópias vendidas; e se vai desse mundo dando um último suspiro para essa indústria que tanto viveu às suas custas. Deu as gravadoras uns anos a mais para faturarem em cima de coletâneas, tributos e DVDs “inéditos”; até, enfim, desaparecerem.

Até por isso, Michael continuará sendo o mito e o maior nome da música do século XX, se prolongando pelos próximos anos – já que depois que qualquer pessoa morre se torna ainda melhor. Em alguns anos seremos velhos e poderemos falar que vimos o mesmo homem ser branco e negro, que andava para trás como se tivesse flutuando, tinha swing, falsete invejável e era um fantástico compositor. MJ conseguirá o incrível: ser ainda mais mito do que já é.


Nas linhas abaixo você não vai encontrar nenhuma tentativa de descrever o Radiohead, em especial, o show do dia 22 de março, em São Paulo, com frases “pra lá” de rebuscadas ou com um punhado de neologismo que tentam explicar esse mundo “radioheadiano” (Ok! Prometo que este será o último).

O que aconteceu neste último domingo na Chácara do Jóquei, na capital paulista, foi a junção de dois tipo de públicos: os curiosos e os fãs – extremamente apaixonados, para assistir uma das bandas que mais provoca reações mundo afora.

Os curiosos vêm daquele tipo de pensamento: “pô, sei que isso é bom. Mas ainda não sei o porquê”. Já os mais bem resolvidos são aqueles que conseguiram acompanhar o caminho percorrido desde o disco brit/pop/rock (ou qualquer nomenclatura cool) “Pablo Honey” – que traz a faixa Creep, que disputa com Loser, do Beck, o título de hit do adolescente fracassado – até o mais recente álbum, In Rainbows

E este público é grande. Só em São Paulo, mais de 30 mil pessoas se arriscaram a ganhar um banho de chuva e, ainda, gastar uma bagatela de R$100 a R$200 para assistir ao primeiro show do Radiohead em terras brasileiras. Apesar de mais de 20 anos de carreira, essa foi a primeira aparição destes ingleses de Oxford no Brasil. Por causa de tanta expectativa, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram “mecas tupiniquins” dos fãs (e curiosos) da banda. Por isso, o que não faltou foram ônibus vindos de norte a sul do país, para desembocarem no eixo Rio-São Paulo.

As bandas Los Hermanos e Kraftwerk abriram o show do Radiohead. Duas bandas de peso: Los Hermanos era uma das maiores bandas do Brasil em 2007, quando repentinamente romperam as atividades para “jogar truco”, às terças a noite. Já a banda Kraftwerk surgiu no início dos anos 70 e preserva sua sonoridade até hoje. Com uma apresentação densa e de difícil compreensão, fez com que as pessoas que já gostavam da banda fossem os principais telespectadores desses quatro “tiozões” alemães.

Quem esperava um show empolgante do Los Hermanos, relembrando as performances dos rapazes em seu auge, ficou só na vontade. Aliado a uma falta de entrosamento, a aparelhagem que foi destinada à banda não ajudou os ex-barbudos. Os fãs de Los Hermanos esperavam por um show imponente do quarteto carioca. Mas, como o próprio tecladista do LH, Bruno Medina, reconheceu, o som não colaborou para o espetáculo: “tudo foi perfeito, a exceção de dois pormenores: a desconfiança de que a ordem do roteiro não favoreceu algumas músicas e a chateação que foi descobrir, ao final do show, que havia uma limitação imposta ao volume de nossa apresentação, por sermos a banda de abertura”, comentou o acanhado tecladista em seu blog.

Em São Paulo, às 22h

Os cinco ingleses (Thom, John, Colin, Ed e Phil) subiram às 22h no palco, com uma pontualidade característica da terra natal desses músicos; virtude rara neste lado de baixo do equador.

Com um setlist feito para fãs e curiosos, o show de São Paulo reuniu músicas conhecidas do público, como aquelas que passavam, por exemplo, no Disk MTV, como Karma Police, Paranoid Android, Fake Plastic Tree, Creep, entre outras.

Porém, bandas como o Radiohead não se limitam a execuções de músicas pontuais, como os singles lançados. A apresentação forte e sincera de cada música faz os sentimentos explodirem em cada compasso.

Confiante no seu “taco”, os ingleses executaram do início ao fim o seu mais recente álbum. Como poucas bandas conseguem, o Radiohead tocou faixa-a-faixa do In Rainbows sem perder o pulso da platéia que se convencia a cada música, interpretada por Thom Yorke, que ele sabia o que estava fazendo, e sabia bem qual música escolher para impressionar o público novamente em seguida.

O show pareceu um grande playback. Músicas com arranjos inimagináveis para o ao vivo. Nos telões que transmitiam as imagens do show para aquelas pessoas no fundo da Chácara do Jóquei e que só conseguiam enxergar os integrantes como pequenos bonecos lego, eram exibidas imagens em close das expressões de cada músico, com um filtro monocromático e transições arrojadas. Tudo isto trazia mais ainda a sensação de que tudo era um grande playback. Mas não era.

Acompanhado da explosão de cores que a montagem de luz trouxe, a turnê de In Rainbows fica marcada como um dos espetáculos de entretenimento mais bem produzidos da atualidade. Era uma montagem elegante, sóbria e ligada às notas que ecoavam pelos potentes altos falantes da estrutura do show. Enquanto Yorke cantava “every thing in its right place”, as luzes esculpiam no palco a letra da canção, simultaneamente.

Dessa forma, o show foi alternando entre o eletrônico e o rock. Mesmo com um setlist extenso, ficaram fora do repertório canções conhecidas do público como “High and Dry” e “No Suprise”.

Ao fim, a platéia já não sabia mais se pedia outros “bis” para a banda ou não, por dois motivos: primeiro que o show foi denso, mesmo antes do fim já se sentia uma sensação de sobrecarga de sentimentos com cada interpretação da banda; segundo porque o Radiohead saiu e voltou do palco duas vezes para tocar a “saidera”. Pedir, mais uma vez, o “bis” novamente parecia abusar do quinteto. Mas eles pareciam não se importar.

O saldo do show foi único, tanto para curiosos quanto para fãs: uma noite indescritível. Até os críticos, que geralmente são pessoas chatas, foram uníssonos quanto a qualidade do Radiohead em cima do palco: uma banda madura e que sabe o que faz

Então, terminando essas poucas linhas de texto que faltam, “corra” para o youtube, procure os vídeos da apresentação no Brasil e sinta essa explosão de cores da atual turnê do Radiohead. Aproveite e tente entender como eles conseguiram deixar 30 mil pessoas perplexas – o que, apesar de ser uma sensação nova para a maioria do público, deve ser rotina para eles, do Radiohead.

Para quem gosta de uma boa dose de slaps, teclados rhodes e um wha-wha no som da guitarra, não pode deixar de conferir a trilha sonora do filme Superbad. Gostei muito do filme, mas entendo bem aqueles que o acharam infantil e bobo.

Mesmo assim, a trilha é um prato cheio pra quem gosta do ritimo que brilhou no balanço de James Brown: o Funk/Soul.

Além de grandes músicas de artistas do Funk como Jean Knight e a banda The Bar-Kays, o disco é carregado de composições próprias para o filme; desde pequenas trilhas para compor as cenas, até canções como “Funk McLovin” foram muito bem produzidas.

A dupla escalada para compor a maior parte das trilhas foi Lyle Workman e Bootsy Collins, e o resultado é um albúm ritimado e com ótimos arranjos de metais, teclados e o swing da guitarra de Lyle.

Vale a pena ouvir o disco com o volume nas alturas e curtir esse funk dançante, que não é nenhum proibidão.

O ano de 1965 foi um ano memorável para música. Talvez quem vivesse naquela época não tivesse a noção do que surgiu durante as quatro estações daquele ano. Álbuns que, até hoje, são lembrados: The Rolling Stones (da banda com o mesmo nome), Live a The Star Club, Hamburg (Jerry Lee Lewis), The Beach Boys Today! (Beach Boys), A Love Supreme (John Coltrane), Rubber Soul (The Beatles), Mr. Tambourine Man (The Byrds), My Generation (The Who), entre outros.

Todos os grandes discos lançado neste ano não ofuscaram o grande pulo do garoto Robert Zimmerman, o Bob Dylan. Dylan lançou dois discos neste ano: Bringing It All back Home e, o controverso, Highway 61 Revisited.

Há um mês de lançar o segundo álbum de 1965, Dylan ligou sua guitarra no Festival Folk de Newport, em 25 de julho de 1965, e foi vitíma das críticas dos puristas da época, que amaldiçoavam Dylan porenvenenar” o folk com sua guitarra.

Anos depois dylan respondeu da seguinte forma: “Eu não podia continuar sendo aquele cantor folk solitário, dedilhando ´Blowin In The Wind´durante três horas todas as noites“. As críticas foram abafadas pelo entusiasmo que o público recebeu o disco, que ainda trazia músicas voz e violão, como ´Desolation Row´, que atendia as expectativas do bom folk da época; no entanto, o disco trouxe canções poderosas e originais como o clássico ´Like a Rollign Stone´ e ´Tombstone Blues´.

Highway 61 Revisited pode não ser a obra prima de Dylan, mas abriu espaços e quebrou paradigmas, possibilitando, a este caipira de Minissota, fazer um som além que os limites do folk da época lhe possibilitava.

Por falar em obra prima, ´A Love Supreme´ pode ser considerada a tal entre os discos de John Coltraine.


Damien Rice em São Paulo

Damien Rice em São Paulo

“Cuidado com o que você pede, pois pode ser que você consiga”, essa máxima se fez valer no show de Damien Rice na última sexta-feira, dia 30, em São Paulo. Quase 2 mil pessoas encheram o Citibank Hall para assistir o primeiro show do músico irlandês em terras tupiniquins.

Show improvisado, em que o público praticamente montou junto com Rice o set list da apresentação. Entre uma música e outra surgiam gritos da platéia e que eram prontamente atendidos. “Deixa eu escolher a próxima canção e depois você escolhe”, brincou o astro da noite enquanto choviam pedidos de músicas da platéia.

Damien Rice tem, ao mesmo tempo, muito e pouco de um astro. Dotado de um talento “gritante” e original, o cantor se comporta em cima do palco com a naturalidade dos artistas de ruas – daqueles bem talentosos. Característica talvez guardada do tempo que abandonou a chuvosa Dublin para tocar pelas ruas de Toscana, na Itália.

Em sua apresentação em São Paulo, Rice misturou um pouco de músico de rua, com karaokê, teatro, concerto, e outras milongas mais; além de um bafo de várias taças de vinho tinto, bebidas em sua dramatização de Cheers Darlin’, ao lado de dois fãs.

Apenas acompanhado de seu violão, Damien Rice subiu ao palco para fazer entrar em contradição aqueles que acreditavam que uma performance acústica não seria tão impactante quanto os seus álbuns de estúdio. E não foi, foi mais ainda; as interpretações ao vivo de suas próprias músicas, beiravam a uma releitura de si mesmo. E sobre a Lisa Hannigan e a banda com cello, baixo e bateria? Devem ter sido lembrados apenas depois show, no papo entre os amigos sobre a apresentação.

O show começou com a canção The professor & la fille danse, uma música teoricamente desconhecida e que somente foi lançada, em 2004, num disco intitulado B sides, mas que já nas primeiras chacoalhadas da mão de Damien nas cordas do violão foi o bastante para fazer o público gritar e cantar, acompanhando a letra da música inicial. Em seguida, Rice executou a música Delicate, e, na seqüência, para atender um grito que veio da platéia tocou Sand. Esta última uma música que nunca foi lançada em álbuns oficiais ou nos vários discos singles feitos pelo irlandês.

Dessa forma seguiu o show: uma música do palco e algumas que vieram da platéia. Até a hora em que uma parte da platéia subiu ao palco, a convite de Rice, e cantou o refrão de Volcano. Um presente para os fãs fiéis que estavam lá e que, por alguns momentos, tiveram a oportunidade de dividir o palco com seu ídolo. “Eu estava lá, imediatamente ao seu lado, fascinado com minha sorte, sua aparência frágil e a força de sua voz o tornam irreal apesar de estar ali ao meu lado”, conta, não acreditando, o “tiete” Marcelo Moraes.

Com pouco mais de duas horas de show, um pouco de tudo aconteceu: atendeu aos pedidos da platéia, pediu para desligar todas as luzes da casa de show, inclusive as do palco para cantar, em completa escuridão, Cold Water; dispensou o microfone e cantou no captador do violão o final da letra de I Remember; desligou o microfone e o violão para cantar Delicate para a platéia, apenas “na madeira”; tocou a música do poeta canadense Leonard Cohen, Hallelujah, na versão de Jeff Bucley; convidou Max de Castro pra tocar o clássico da Bossa Nova, Desafinado, apenas porquê não ele sabia “those fuck jazz’s chords”, entre outras muitas peripécias de um artista de rua que ousa excursionar pelo palcos do mundo com a sua música.

O show deixou claro que Damien Rice é muito mais do que o clichê de ser um cantor folk. Apesar do gênero estar na moda, e nomes como Jonny Cash, Neil Young e Bob Dylan estarem na boca, até de meninas de 16 anos que acham cool ser folk; Rice vai além desse estereotipo e consegue voltar à essência deste ritmo raiz.

Apenas com um violão e a sua voz canta uma música do povo, diferente daquela cantada há 40 anos, até por que a demanda desta juventude é outra, e parece que esse, nem tão jovem, irlandês procura seguir seu próprio ruma na musicalidade. Assim como Robert Zimmerman, fez em 1965, sem deixar de ser folk.

Ativista de carteirinha

Após sete anos do lançamento do seu primeiro álbum, O, a sua turnê só aconteceu no Brasil por um motivo: para levantar fundos para as vítimas da chuva em Santa Catarina. Damien Rice participa de campanhas de caridade ao redor do mundo com muito engajamento, além de ser vinculado a algumas organizações de caridades não-governamentais.

No ano passado participou de álbum lançado em prol da causa do Tibet, além de ter ajudado famosas campanhas como a Freedom Campaing, pela luta dos direitos humanos.

A pedido de uma amiga, Rice topou vir ao Brasil para fazer um show em SC, doando o seu cachê aos necessitados. Com essa brecha, foi possível encaixar um show em São Paulo e uma participação na gravação do DVD, no Rio de Janeiro. Mostrando que esse talentoso Irlandês está além do “é isso aí”, e que carrega no, seu violão, uma arte cheia de sentindo, mas não o mesmo sentido do show business.